ELE ,jovem fronteiriço, mediano, cabelo cerrado, ensimesmado , com as virtudes e vícios da terra, maço de cigarros no bolso interior. Julgavam-no um espertalhão e ,diziam, sabia coisas difíceis de entender. ELA ,jovem professora ,citadina, deslocada naqueles lugares esquecidos, cheia de tédio e de tempos infinitamente mortos que nem o ensino das letras às crianças lhe fazia superar a sua revolta. Suspirava por movimento e novidades. Mas… nem tudo era o que aparentava .A vida havia de cruzá-los várias vezes, e numa delas o desafio soltou-se inesperadamente: -Levas-me ao outro lado da fronteira ? Tremeu com o atrevimento, vindo de quem veio, pensou, só podia estar a gozar com ele. Coçou o coruto do couro cabeludo mal amanhado e sem desdenho respondeu : - Hoje à noite ,à meia noite, no cruzamento do vale de águas! Seguiu cada um o seu caminho como se tratasse de uma fatalidade pessoal. Foi à taberna e comprou dois maços de cigarros, saudou os presentes ,bebeu de um trago um tinto dos pequenos e saiu compassadamente. Em casa, ela arrumou os livros e os cadernos, começou a preparar uma trouxa. A aventura ia ser dura e era melhor ir preparada. Olhou para o relógio e verificou que ainda era cedo. Preparou--se entretanto. Vestiu umas calças que tinha guardadas e foi rebuscar o blusão de ganga que lhe dava um ar de rebeldia. E, como o tempo passa depressa, saiu silenciosa. Na hora exacta, uma velha carrinha, com as luzes apagadas ,surgiu por detrás de um caminho escuro e abandonado. Embarcou sem palavras e, noite dentro, ouvia apenas o roncar do cansado motor, até que, horas depois, acontecia a inevitável paragem. Ela assustou-se mas nada disse .Ele ,nem uma palavra ou um insulto para a carrinha. Apetecia-lhe fumar um cigarro mas sabia que era totalmente impossível sob pena de ser descoberto pelos do lado de cá e os do lado de lá. Fez sinal para a companhia sair de mansinho ,para não falar e não fechar a porta com barulho. Chamou-a para o seu lado e pegando-lhe no braço arrastou-a até uma clareira de onde se observava o vale e a próxima montanha ,que era já do outro lado. Do outro lado viram sumir-se ao longe uma luz nos fundilhos da mata. Apontou com o dedo para lá e ,puxando-a agora pela mão, quis voltar para a carrinha a fim de seguirem viagem. Mas sentiu uma humidade, um calor tão intenso e desconhecido que lhe fez bater o coração de forma muito apressada, ao mesmo tempo que sentia as pernas trémulas. Recompôs-se e, olhando ,viu naquele breu um sorriso luminoso. Sem palavras a viagem recomeçou e acabou ao amanhecer já do lado de lá. Ela nunca tinha visto um nascer do sol tão bonito como aquele que lhe deslumbrava os olhos citadinos. Ele, por fim, pôde gozar o prazer de fumar um cigarro, e, para matar o vício, dois ou três de seguida. Disse-lhe que ficasse sossegada ali na carrinha que ele voltaria logo .Ela começou a sentir o calor dos raios solares matinais e não resistiu ao cansaço. Adormeceu. Levara a merenda mas não tivera fome. Ele chegou e ao vê-la pensou em maldizer a sua vida por ter ali um empecilho que lhe ia dificultar a vida. Astuto e decidido como era não recuou. Tapou-a com uma manta que sempre o acompanhava e foi dizendo para si mesmo por que entrara ele no conto desafiador daquela professora .Reparou, quer dizer confirmou agora, que a rapariga era atraente, mesmo bonita ,e puxando o boné pela pala para trás, coçou a cabeça . Mais tarde ,negócio feito e troca arrematada, era preciso fazer a viagem de regresso com a mercadoria a salvo. Foi preciso esperar pela noite cerrada e repetir todas as manobras de segurança para que o retorno fosse seguro. Duas madrugadas passadas e ei-los de volta. Ela ficou no cruzamento e voltou a casa e à escola. Ele seguiu com a carrinha e desapareceu até que foi visto por volta do almoço na taberna a comprar cigarros. Muitas madrugadas e outras tantas viagens se seguiram ,até que a carrinha entregou o seu motor fanado ao criador . Na aldeia toda a gente sabia, mas, como de costume ,o melhor era nada saber. Num dia de Verão a professora citadina partiu para outra escola. Qual ? Ninguém sabe. Ele ficou-se ,indo todos os dias à taberna onde se ouviam histórias e se faziam os negócios. Vagueava pelas ruas consumindo cigarros uns atrás dos outros. Uma manhã não apareceu para comprar tabaco, ouvir as histórias ou fazer negócio. Consta que desapareceu. Conta-se que ganhou mundo !
Correm as obras na Igreja de São Miguel de Valverde, mesmo contra a chuva.Consultando as minhas memórias, consegui encontrar a seguinte notícia no Jornal do Fundão de 19/7/1959 :"iniciaram-se obras de reparação da Igreja Paroquial" e mais tarde no mesmo jornal de 6/12/1959 outra notícia :"estão concluídas as obras de restauro da Igreja Matriz desta freguesia nas quais se gastaram cerca de 80 contos".Já agora esclareça-se que a Sacristia Nova foi construída no ano de 1954,como é possível constatar no mesmo Jornal do Fundão de 31/10/1954 com a notícia de que "começaram as obras de ampliação da Igreja Matriz".
BORBOLETAS Era uma manhã de frescura de um sábado cálido de Verão. E, eu vi-te! Vi-te? Esvoaçavas numa saia branca de pontas que se moviam com a graça das asas de uma gaivota alcalina. O teu braço gesticulava remando um barco governado por uma vontade ignorada de um Ulisses bolinando à vela na miragem de uma Tróia ,fascinado pelo canto de beleza de uma Penélope ou Helena fugidia. A força do braço pareceu-me lançar o barco para as águas turbulentas que estão na frente da desumana paisagem das gentes que se desconhecem. Pensei que fugias. E, fugirias de quê? Talvez da brisa ou da paisagem, da incerteza da vida ,ou tentavas voar para outro sonho mais irreal tentando ignorar o real que atrás de ti estava. Não sei! Sei que olhei e num instante te perdi. Lembro-me de ter visto uma borboleta de asas brancas e corpete esverdeado agitando frenética as asas ,fugindo da metamorfose que desdenha projectos e futuros. Vi-te? Eras uma borboleta… publicado por valverdinho às 13:20
No dia 29 de Setembro interrogava-me,a propósito da passagem do 1º aniversário das eleições autárquicas com o novo mapa das freguesias ,se tinha valido a pena. O tempo ainda curto tem já o cunho de nos mostrar que as populações nada ganharam.Perderam o atendimento preferencial e personalizado que recebiam dos seus dirigentes locais.Perderam o estímulo de pugnarem pela sua terra e os seus concidadãos.Não vêm e nem conhecem os dirigentes locais,e ,por isso ,não lhe merecem confiança .Conhecem agora o abandono a que estão a ser votadas as suas terras.Tiraram por fim as conclusões simples de que as promessas feitas e escritas em documentos eleitorais são uma completa e desmesurada mentira. Quanto à tão propalada poupança ,onde está ela ? Os autarcas são mais agora de que antes e,sobretudo,muito mais caros. Se dantes recebiam quantias praticamente simbólicas agora recebem uns ordenados bem jeitosos. E pelos poucos exemplos em que é preciso poupar ,então corta-se no atendimento às populações.Motivo : é preciso poupar para investimento.Isto é,para fazer obras inúteis e de fachada para arregalar o olho e apresentar como trunfos eleitorais.Ou até,promovem-se festarolas de comes e bebes para enganar os incautos.Das promessas repetidas e esquecidas não se lembram,por que é preciso , a todo o custo,manter o seu poder ,por mais pequeno que possa ele ser. Triste sorte
. A Capela
. A Carvalha de São Domingo...