Quinta-feira, 24 de Abril de 2014
Confissões de um soldado - homenagem a um amigo.
Como todos os dias, à hora determinada, tinha sido feito o toque de recolher e o silêncio reinava na camarata. Repentinamente, acendem-se as luzes e irrompem por entre as camas o capitão, o aspirante e dois furriéis. O soldado Rodrigues esfrega contrariado os olhos e pensa para si: lá vem mais uma instrução nocturna…
Repara, porém, que o capitão apresentava um ar de gravidade e de decisão diferentes do habitual.
Depois de todos em pé, o capitão dirige-se grave e solenemente a todos, com voz pausada mas potente e bem colocada :
-Meus senhores! Estou aqui para vos dizer que esta noite qualquer coisa de especial vai acontecer. Vamos pôr em marcha uma revolução para derrubar o governo e acabar com a ditadura e a guerra. Para tal contamos com a colaboração de outros camaradas em todo o país. A nossa missão é marchar sobre Lisboa e derrubar ainda esta noite o governo fascista e neutralizar a pide!
Enquanto o capitão se declarava, o soldado Rodrigues olhava em redor e verificava que a situação era, de verdade, extraordinária e ouviu, clara e frontalmente, aquele homem que ali estava decidido a enfrentar todos os desafios, dizer-lhes ainda:
-Não vos escondo que a missão é difícil e complicada, pondo mesmo em risco as nossas vidas e o nosso futuro. Podereis nunca mais ver a vossa família e ser perseguidos para toda a vossa vida se a nossa actuação não for coroada de sucesso.
Rodrigues ouviu a voz forte e determinada do capitão perguntar com galhardia:
- Quem quer vir comigo fazer a revolução?
Fez-se um breve silêncio. O Rodrigues, soldado beirão duro como os penedos da sua serra, empertigou-se e dando um passo em frente, respondeu alto e claramente:
- Eu, meu Capitão!. Eu alinho até ao fim!
Levantou-se um coro de adesões:
- E eu, e eu, e eu …e no final um coro de : vamos todos !!!
-Então preparem-se que vamos já sair.
Tal como pedido a prontidão da tropa foi imediata. Ligaram-se os motores e à passagem apeada do capitão o Rodrigues olhou-o nos olhos, como sempre fazia quando estava em frente de outro homem, e verificou que o acompanhava qualquer coisa que o fazia diferente dos outros, mas que ele, naquele momento,não conseguia compreender.
À ordem, a coluna arrancou. Pelo caminho o Rodrigues ia pensando que era altura de acabar com a miséria que grassava na sua terra.
.
A tempo e na hora marcada, a coluna começou a cumprir os seus objectivos. O capitão, sereno e decidido, era a figura de tudo aquilo que nós queríamos que ele fosse e que ele, na verdade, era. Um comandante competente, eficaz e humano. Quase como um pai, a quem estávamos dispostos a seguir, sendo preciso, até ao inferno.
Em Lisboa tudo se passa como um turbilhão de ondas incomensuráveis que nos arrastam para lugares e situações totalmente incompreensíveis e inexplicáveis. Que confusão assaltou as nossas cabeças! Que coisas nos gritavam aquelas multidões extasiadas de alegria, que gritavam democracia, fim da guerra colonial, davam vivas à democracia e gritavam por uma revolução, chamavam o nosso capitão pelo nome, havia muita gente a tirar fotografias e a bater-nos palmas como se nós fossemos os salvadores da pátria. Pela nossa cabeça desfilavam uma quantidade de coisas impossíveis de entender.
Assim nos mantivemos este dia, seguindo o nosso capitão e seguindo o dia decisivo das promessas que ele nos fizera ao sairmos do quartel. Mas continuava tudo muito confuso nas nossas cabeças, para nós, que apenas saímos das nossas terras para assentar praça num qualquer lugar distante da nossa terra e da nossa família, estávamos agora a ficar sem orientação.
Valia-nos a sempre atenciosa ajuda do capitão, sempre ele e os seus milicianos, para ajudar a suportar a nossa nova vida e a entender o que as multidões, que nos louvavam, gritavam com toda a força dos seus pulmões. Que queriam eles dizer com liberdade, democracia, socialismo, liberdade para as mulheres, abaixo o fascismo, morte à pide, e quem eram aqueles senhores que viviam no estrangeiro e estavam de volta e nós nem sequer conhecíamos ?
Notava-se facilmente que todas as pessoas estavam muito alegres e espalhavam abraços pelos militares. E, nós, a quem o capitão disse que vínhamos fazer a revolução, ainda nem um tirinho tínhamos dado. Fazia-nos impressão que o nosso capitão andasse sempre apressado de um lado para o outro, falava e gesticulava com uns figurões desconhecidos, via-se que o nosso capitão era o herói daquela multidão que pedia para assaltar o quartel e prender os fascistas que lá estavam dentro e que o nosso capitão lá entrou sozinho para os enfrentar, sem medo nenhum deles e mandou dar uns tiritos para a parede a fim de lhes meter cagaço. E a algazarra que todos fizeram quando aqueles tipos saíram foi uma coisa que nunca mais me esqueceu!
Ofereceram-nos até flores, um cravo vermelho como aqueles que eu via nas casas das raparigas novas lá da minha terra. Puseram-no no bolso da minha casaca e a outros até lhos meteram nos canos das espingardas.
Viemos para o quartel tal como tínhamos ido. Em silêncio, mas agora com a cabeça cheia de coisas por explicar.
O capitão falou e disse que tínhamos cometido um acto heróico em favor do nosso povo e que, por isso, éramos dignos de louvor e que ele nada teria feito sem a nossa ajuda. Mas o que nós víamos é que era um grande homem e um excelente militar, era ,como já disse, uma espécie de pai para nós.
Como prémio concedeu-nos uma breve licença, dizendo que nós éramos os seus soldados e que ele sem os seus soldados não era nada!
Chegado à minha terra comecei a compreender que na verdade algo de muito importante aconteceu.
E aconteceu. Sei agora que aconteceu uma coisa importante para todos. Aconteceu o 25 de Abril!
Guardei religiosamente o cravo que me deram em Lisboa e ofereci-o à minha mãe!
1976- INQUÉRITO GERAL –URBANÍSTICO E SÓCIO ECONÓMICO – feito pela Empresa CIPRO para a Câmara Municipal
Habitantes 1144 Famílias – 394 Fogos – 303
IDADE DOS EDIFÍCIOS
+ 50 ANOS 50 %
20 – 30 18%
10 – 20 5%
- 10 anos 27%
ESTADO DE CONSERVAÇÃO DOS EDIFÍCIOS
Bom 36%
Regular 46%
Mau ou inabitável 18%
Regime contratual da habitação
Própria 50%
Alugada 36%
Cedida ou emprestada 14%
Fogos com retrete 27%
Fogos sem retrete 73%
Fogos com duche/banho 21%
Fogos sem duche/banho 73%
Fogos sem qualquer tipo de instalação sanitária 418
Fogos com esgoto 21%
Fogos sem esgoto 73%
Fogos com água canalizada 41%
Fogos em água canalizada 59%
Fogos com electricidade 86%
Fogos sem electricidade 14%
FAMÍLIA
1 PESSOA 9%
2 pessoas 14%
3 pessoas 27%
4 pessoas 41%
5 pessoas 5%
6 pessoas 4%
Dimensão média da família 2,90
ESTRUTURA ETÁRIA
0-4 anos 8%
4-8 8%
7-10 14%
11-12 1%
13-15 1%
16-17 4%
18-25 7%
26-40 27% (606)
41-65 19%
+ 66 11% (121)
População masculina 595
População feminina 549
GRAU DE INSTRUÇÃO DA POPULAÇÃO RESIDENTE
Analfabetos 11%
Sabe ler e escrever 13%
4ª classe 46%
Ciclo preparatório 10%
5º ou 7º ano 10%
Curso médio ou superior 10%
Têm pelo menos a 4ª classe 76%
SITUAÇÃO PERANTE O TRABALHO
Menores 16%
Estudantes 21%
Domésticas 22%
Reformados 7%
Doentes/inválidos 1%
Desempregados 1%
Activos 29% (8+21)
Activos por conta própria 8%
Activos por conta de outrem 21%
Outros 3%
PROFISSÃO DOS ACTIVOS
Agricultor/trabalhador rural 20%
Trab. Construção civil/operário 24%
Comerciante 14%
Func. Públicos ou serviços privado 14%
Professores 14%
Outras 14%
Sectores : primário 20%
Secundário 24%
Terciário 56%
SALÁRIOS MENSAIS DO AGREGADO FAMILIAR
- de 1.000 esc. 3%
1.000 – 2.000 9%
3.000 – 4.000 5%
4.000 – 5.000 3%
5.000 – 6.000 16%
6.000 – 7.5000 16%
7.500 –10.000 13%
10.000 .- 15.000 13%
+ de 15.000 5%
Variável 5%
EMIGRAÇÃO
Total de emigrados 515 – 31% da população
França 61%
Alemanha 3%
Região de Lisboa 12%
Outras regiões do país 24%
TELEFONES- Lista telefónica do concelho do Fundão- ano de 1971.
VALVERDE
Nome Número
Almeida, João José Roque de 52513
Baptista, José da Silva 52225
Ferreira, Prof. José Pires 52452
Posto Público- Domingos Lopes Amoreira 52326
Sequeira, Mário Cardoso 52277
Soares, Manuel 52512
Compare com a actualidade e veja
as diferenças.
Sexta-feira, 11 de Abril de 2014
Tenho vindo a fazer umas buscas nos mais antigos números do Jornal do Fundão.Em 9 de Junho de 1946 o Correspondente em Valverde escrevia o seguinte: “A população rural desta aldeia luta com tremendas dificuldades alimentares. A falta de pão faz-se sentir de maneira particularmente grave pois alguns jornaleiros têm deixado de ir trabalhar por não terem o pão necessário à sua alimentação.É digna de louvor a atitude do grupo de pessoas que abriu uma subscrição a favor dos mais necessitados.A receita total ,cerca de quatro contos e quinhentos,foi distribuída em dinheiro e géneros por mais de cem famílias. Oxalá que tão belo exemplo se não perca e aqueles a quem a miséria não afronta continuem a prestar aos seus conterrâneos menos afortunados o carinho e auxilio que merecem”.
E,também,em 20 de Novembro de 1949 escrevia o seguinte : “ como aconteceu no ano passado por esta altura saíram da nossa terra ,na última semana ,contratados para a colheita da azeitona da província do Ribatejo ,perto de uma centena de trabalhadores – homens e mulheres – em procura de sustento ,que a crise de trabalho e dos salários da nossa região não garantem”.
Quinta-feira, 3 de Abril de 2014
Hoje é dia 3 de Abril ,Dia da Freguesia.É bom que se lembre para que alguns não possam esquecer.