Há muito tempo que perseguia esta história.
Certamente ,muita gente se lembrará ainda que a festa de São Sebastião se realizava pelo dia 15 de Agosto ou no Domingo mais próximo.
Lembrança há,também, em muitos que no Domingo anterior à festa viram o Anjo da Guarda da Fatela no cimo da torre da Igreja de Valverde. Depois da admiração veio o regozijo e o orgulho dos valverdenses : “roubaram o Anjo da Guarda à Fatela” e “o Anjo da Guarda agora é nosso”.
Quem foi ? Ao certo nunca se soube,até que alguém decidiu contar.
Houve uma patuscada da malta da altura na taberna do Sr Firmino.Depois de bem comidos e bebidos,dois dos rapazes levantaram-se e saíram com a desculpa de terem de ir trabalhar de manhã cedo.Aconteceu que cada um se dirigiu para sua casa mas foram encontrar-se num lugar combinado.
Foram a pé para a Fatela.Pelo caminho ainda tiveram de se esconder na valeta de um outro valverdense que vinha de bicicleta de namorar na Fatela.
Chegados ao Anjo da Guarda pegaram na estatueta , voltaram para Valverde e acharam que o lugar mais seguro e indicado seria a torre da Igreja.Ali deixaram o Anjo para admiração de todos,
Mais tarde,pelo meio dia,apareceria a Guarda que levaria a estatueta para a Fatela.
Derrota mal aceite pelos valverdenses.
A meio da tarde desse quente Domingo tocou o sino a rebate e a palavra de ordem foi ir recuperar o Anjo à Fatela.Muitos e muitos se dirigiram para a Fatela.Dizem-me que os nossos vizinhos,temendo,esperavam no alto do esteval.Avançaram os de Valverde e os outros foram recuando.As armas eram paus,pedras e alguma sachola.Tanto recuaram que foram parar nas hortas para lá da Capela do Anjo da Guarda.Aqui,frente a frente,preparava-se a batalha decisiva para a conquista da honra e do Anjo.Os nossos vizinhos,dizem-me,puseram na frente as crianças e as mulheres que retiraram após um pequeno ataque com tomates das hortas.
De novo voltou a Guarda e com outras pessoas conseguiram desmobilizar as tropas.
Algum tempo depois o Anjo da Guarda voltaria a aparecer misteriosamente no Carvalhal naquele arco de ferro junto ao Senhor dos Emigrantes.E,para não mais fugir,foi chumbado à sua coluna onde hoje se encontra desprezado.
Outras peripécias se seguiram.Contam-me que os nossos vizinhos,por mais de um ano,quando queriam ir ao mercado no Fundão,tinham de ir dar a volta pelo Alcaide.
Há entretanto uma coisa que não consegui apurar: a data;terá sido em 1961 ou 1962?
Coisas de outros tempos!
. A Capela
. A Carvalha de São Domingo...